14.6.08

A capital brasileira dos esportes radicais


Feche os olhos e use a imaginação. Vou pedir que visualize um lugar. Primeiro, o lago: belo e imenso, de um azul intenso e brilhante com o reflexo da luz do sol. Acrescente montanhas, algumas delas. Não tão altas mas não baixas. Montanhas nunca são baixas, senão não seriam montanhas. Coloque um tanto de neve no topo de cada uma delas. Não esqueça de colocar um pouco de neve no topo. Agora, uma cidade. Cidade não, cidadezinha, uma cidadezinha nas montanhas. Tá conseguindo?
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Vamos adicionar agora os esportes radicais. Inicie pelo parapente. Pessoas flutuando pelo céu, ícaros modernos, vários deles. Nas montanhas, com neve no topo, esqui e snowboard, o que mais movimenta a cidade. Cidade não, cidadezinha. No lago, parasail, um páraquedas puxado por uma lancha. Caiaques e veleiros. No rio, jet-boat, uma lancha ultraveloz que faz manobras arriscadas e rafting, altas corredeiras. Ciclistas. Daqueles que usam a bicicleta como meio de transporte no dia-a-dia, mas principalmente lunáticos que descem ladeiras insanas de downhill. Imagine o downhill mais casca grossa que você conseguir. Ainda tem mais, relaxa. Skydive com o visual das montanhas. Bungee jump, como poderia esquecê-los, os mais altos do mundo. O maior pêndulo que existe, parecido com o bunguee mas a corda não é elástica, apenas realiza um movimento pendular a mais de 100 metros de altura. Trilhas! Muitas trilhas pelas montanhas. Escalada no gelo e escalada em rocha. Muita escalada.
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Esta overdose de adrenalina transformou esta cidadezinha na capital mundial dos esportes radicais. Queenstown, onde vivem de 15 a 20 mil pessoas, é o lugar onde tenho passado meus dias. Conseguiu imaginá-la? Cheguei no inverno e já peguei temperaturas de –5 graus. Já estou acostumado. Quando faz 10 graus acho calor. Falta falar que o lugar está abarrotado de brasileiros, algo em torno de 10 a 20% da população. Isso é muito bom e também é péssimo. Faz sentir-me mais próximo de casa, mas também faz sentir-me muito próximo de casa, e não vim até aqui pra isso. Ás vezes falo muito português e isso confunde meu inglês, além do que alguns brasileiros já fizeram muita bagunca, o que literalmente queimou o filme. A maioria veio em busca de trabalho, principalmente na rede hoteleira e o lado bom é que essa semana comi arroz e feijão!
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Aqui é mais ou menos assim. O caixa do supermercado é brasileiro, da mercearia também. No McDonald’s você pode pedir em português. O vigia do ginásio é brasileiro, o faxineiro do shopping também. O recepcionista do hotel é brasileiro, os camareiros também. Até o cara que entrega pizza e a banda que tocava na balada da foto. As outras vagas que sobraram foram preenchidas principalmente por ingleses, argentinos, chilenos e um ou outro europeu, japonês ou australiano. Ademais, o mundo inteiro passa aqui. Já encontrei tchecos, poloneses, alemães, suiços, espanhóis, bascos, italianos, belgas, holandeses, escoceses, galeses, irlandeses, austriacos, franceses, sul-africanos, turcos, israelenses, coreanos, chineses, malaios, tailandeses, estadunidenses, canadenses, mexicanos, uruguaios e indianos.
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Você bem sabe que cheguei aqui com três objetivos: trabalhar, escalar e pedalar. Até o momento, foquei todas minhas energias em procurar um emprego que me faça feliz e em que eu possa guardar um dinheirinho. Escalar e pedalar tem ficado para o verão, quando vai estar mais quente e sem neve nas montanhas. A busca por emprego foi uma verdadeira aventura, um esporte radical, que prefiro contar nos próximos capítulos. Por enquanto, feche os olhos e visualize a capital brasileira dos esportes radicais, Queenstown, e pense seriamente em me fazer uma visita.