16.6.08

Habebe´s

Frio de doer os ossos. Sair na rua, por si só, já significava um sacrifício. Até mesmo dentro de casa a sensação era de congelamento e a necessidade de encontrar emprego se tornava uma missão pouco inspiradora. A cidade cheia de pessoas do mundo inteiro em busca dos drops magníficos do alto das montanhas. Um bonito clima de uma estação de esqui, que tem um brilho diferente de um destino litorâneo, mas confere às pessoas a mesma diversão e contentamento.
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Poucas vagas e muita gente na mesma busca. As opções se limitavam a restaurantes, cafés, bares e principalmente hotéis. Depois de algumas dezenas de nãos, a motivação ia diminuindo, junto com os dólares que eu havia trazido. Já pensava em buscar uma chance nas fazendas de kiwi ou uva, nada animado. Olhava os jornais, murais, visitava as agências e fazia o conhecido porta-a-porta com um punhado de currículos embaixo do braco. Certa noite, tive um sonho. Normalmente não os recordo, mas daquela vez lembrei muito bem dessa mensagem onírica: "- Na Nova Zelândia você vai precisar de paciência." Levei em consideração e obedeci.
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Eis que, dias depois, deparei-me com o Habebe's e sua proprietária, Anne. Sim, o nome lê-se como a famosa rede brasileira de esfihas, mas aqui em Queenstown a especialidade são os kebabs, rolos de pão fino com recheio de saladas impressionantes. Um cantinho alto astral onde logo me identifiquei por sua proposta saudável e divertida, onde poderia aprender muita coisa e trabalhar feliz. Anne me ofereceu uma ficha onde coloquei meus dados e depois de uma breve conversa prometeu me ligar.
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Senti-me otimista pelo falo de minha intuição apontar que daria certo. Depois de alguns dias, numa manhã de domingo, Anne me telefonou e disse haver contratado outra pessoa para a vaga, mas que iria precisar de mais uma em duas semanas. Perguntei se poderia ser eu e ela apenas falou talvez. Era tudo que eu precisava para acreditar que sim.
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Ao invés de sair batendo nas portas como de costume, dediquei uma semana a pegar caneta e papel para elaborar uma carta. Escrevi a Anne toda a minha vida e o que me motivou a vir a Nova Zelândia e querer o emprego. Transformei em palavras meus sentimentos e ambições. Logo que fui entregá-la, ela recebeu-me dizendo que não poderia me contratar já que se o fizesse ficaria com três de seus quatro funcionários brasileiros e isso provavelmente acarretaria problemas com a comunicação com os clientes, com razão, preferindo ela alguém que tivesse inglês como primeira língua. Agradeci e deixei a carta.
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Algumas horas depois ela me ligava convidando-me para um teste na semana seguinte. Senti um grande alívio e satisfação por acreditar; não só nos meus potenciais e nas pessoas, mas na energia que move o universo e constrói o futuro. Fiz o teste e fui contratado, um grande passo para minha permanência e regozijo aqui em Aotearoa.
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Com casa e emprego, fui escalar.