16.6.08

Tasman Palace

Algumas sensações me fascinam. Certamente o que mais me inspira é o inusitado, a percepção de simplesmente não ter idéia do que encontrarei nos próximos passos. E saber lidar com isso. Prevalece sempre a opção de acreditar que coisa boa será, ou melhor dizendo, fé no que virá.
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Quando você carrega uma mochila nas costas é como se tivesse o universo inteiro ao seu alcance, convicto de que é mesmo capaz de realizar o que quer que seja, onde estiver. O mundo todo cabe numa mochila. Se vai a algum lugar começar uma nova vida e carrega tão somente uma mochila, haja o que houver, tudo o que conquistar terá um inesquecível sabor e sua mochila se tornará cada vez mais leve e fácil de se carregar.
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Pisei em Queenstown numa ensolarada, porém fria, tarde de quarta-feira. Fui fazer o que normalmente se faz ao chegar em uma nova cidade, procurar onde dormir. Me dirigi a um albergue e descarreguei minha companheira de viagem. Já com o sono garantido, realizei a segunda necessidade básica dos viajantes: encher a pança. Para celebrar optei pelo meu prato preferido, pizza. E não poupei esforços, comi uma inteira. Assim que consegui andar dei início à minha saga nesta cinematográfica cidade nas montanhas.
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Para minha realização e bem-estar precisava encontrar tão somente duas coisas: casa e trabalho. Comecei pela casa. Pesquisei nos jornais, que aqui são de graça, e nos murais de recados. Como cheguei em plena alta temporada de inverno, haviam poucas vagas. Entrei em contato com um brasileiro, Rodrigo, que anunciava um quarto. Me explicou o caminho e pela primeira vez eu subi a ladeira de Fernhill. A primeira coisa que reparei na casa foi a sensacional vista do Lago Wakatipu e das montanhas que cercam Queenstown. A primeira coisa que senti foi frio, já que as casas não tem aquecimento e tampouco são construídas com tijolos, mas sim de um compensado que mais parece papel.
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Infelizmente o quarto seria ocupado por outros brasileiros, mas como Rodrigo e Lucas, o outro morador, foram com a minha cara, me deixaram ficar na sala por uns dias até que arrumasse outro lugar. Busquei minhas coisas no albergue e me mudei para a fria sala da Tasman Palace, como é conhecida esta casa laranja na Wynyard Crescent, no alto de Fernhill. O nome remonta à epóca em que a casa era decorada com centenas de latas de cerveja da marca Tasman. Instalei-me no chão mesmo em pleno inverno do hemisfério sul nesta latitude de 45° onde as temperaturas baixavam de –5 na madrugada. Juntei uns cobertores, arrumei um travesseiro, mantive a lareira acesa e agradeci muito toda noite antes de dormir.
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Após duas semanas na sala, dei sorte de poder mudar-me para um dos quartos e reconheci uma verdadeira motivação que me leva a viajar pelo mundo. É a satisfação de entender que onde quer que eu esteja, na situação que for, poderei encontrar pessoas dispostas a ajudar. Da mesma forma, eu sempre posso oferecer algo ou mesmo retribuir a outra pessoa, em outro lugar, num outro dia e fortalecer, assim, a corrente do bem. Isto me faz seguir adiante.
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Agora eu poderia buscar um emprego.