12.6.08

O relicário cearense



Alguns acreditam que o Paraíso poderia facilmente ser uma praia. Se isto for realmente verdade, não resta dúvida de que esta praia poderia ser no Ceará. O problema, em consequência, seria escolher qual delas. Eu faço minha aposta.
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Entramos no estado pela cidade de Chaval, um pouco afastada do litoral, e de lá percorremos 56km pela rodovia até a simpática cidade de Camocim. Passamos a noite por ali e logo de manhã fizemos uma travessia de barco para chegar à Ilha do Amor, primeira praia que precisaríamos percorrer para alcançar nosso objetivo do dia: Jericoacoara! De início tivemos que empurrrar as bikes embaixo do sol forte por um trecho de dunas, até chegar junto ao mar. Dali teríamos uma longa faixa de areia a percorrer e também uns rios pra atravessar.
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Passamos pelas praias de Imburanas, Moréia e Tatajuba até chegar a Guriú, onde de balsa atravessamos um braço de rio. Lindas praias, onde a paisagem inspirava os pensamentos e o movimento das pedaladas deixava todo o corpo completamente ligado. Muitos coqueiros e quase nenhuma pessoa, a não ser os pescadores e alguns bugues que levavam turistas para fazer passeios. Em Tatajuba, a mais linda praia do caminho, há um braço de rio que por sorte conseguimos atravessar na canoa de um pescador, já que ali não tinha balsa. Um lugar que me fez pensar em passar uns dias... ou semanas, meses, anos, vidas...
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De Guriú faltava muito pouco pra chegar em Jericoacoara, uns 12 kms. Mas quando saímos da balsa vimos que a maré já tinha subido, o que não deixava a faixa de areia que precisávamos para pedalar. Demos uma descansada e tomamos a única atitude que nos restava: empurrar as bicicletas. Ir empurrando é o que mais nos cansava quando íamos pela areia, as bikes pesadas na areia fofa é realmente muito desgastante e, além disso, chato. Tinhamos que percorrer 12 kms, iria tomar muito tempo. Mas não tínhamos outra opção.
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Quando faltavam uns 5km pra chegar em Jericoacoara, já foi possível pedalar de novo, após umas duas horas ou mais de sofrimento. De longe foi possível enxergar a duna que a caracteriza, mas parecia que nunca ia chegar. O prêmio do dia foi o lindo pôr-do-sol que avistamos da praia e absorvemos o astral do lugar logo na chegada. Jericoacoara é o auge.
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Jeri, como é comumente chamada, foi transformada em Parque Nacional, o que possibilitou algumas atitudes de preservação e manejo consciente. Mas é claro que nem tudo por lá é muito sério. Estamos no Brasil. Por ser um local completamente isolado, Jeri sofre por não ter banco, ter má conexão telefônica e saneamento precário. Os moradores fazem muitas reclamações e o prefeito (um espanhol!?!?) está bastante ocupado com seus negócios. Os imóveis por ali estão super valorizados já que a expansão das construções está proibida. Uma das praias mais bonitas do mundo precisa ser cuidada como tal.
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O pôr-do-sol de lá é inesquecível. Jeri foi presenteada pela natureza com o sol se pondo no mar, algo muito raro no Brasil pela nossa posição geográfica, já que o que normalmente ocorre é o sol nascer no mar. E mais, tem até arquibancada! Uma duna que se levanta junto à água e que possibilita que o público tenha uma ótima posição para apreciar sua própria insignificância. A capoeira dá o ritmo do lugar, que ainda tem grandes lagoas que podem ser apreciadas em passeios por dunas gigantes e, pelo outro lado, uma formação peculiar lapidada ao longo dos anos pelo mar, que resiste em querer subir pela areia: a Pedra Furada.
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O que comumente se diz sobre Jeri é que você provavelmente vai ficar por lá mais tempo do que havia planejado.